domingo, 6 de junho de 2010

Indignação profissional

Faz algumas semanas que quero escrever sobre um assunto, mas não sabia como colocá-lo aqui.
Há cerca de um mês eu e uma amiga recebemos uma proposta indecente! Uma empresa que faz empreendimentos entrou em contato para saber se estávamos interessadas em fazer um projeto básico de residência para colocar no encarte de vendas dos lotes. Nossos nomes apareceriam no caderno de divulgação, mas não receberíamos pelo trabalho, e o argumento usado para isso é que muitas vezes os clientes entram em contato com os arquitetos do encarte para desenvolverem o projeto.
Minha amiga não deu uma resposta na hora, pois precisava conversar comigo pra decidirmos juntas. Analisando a proposta, decidimos não aceitar, devido às condições de prazo e (não) remuneração. Escrevemos um e-mail para a pessoa, que uma semana depois nos respondeu:
"é uma pena, pois como disse ao telefone outro dia, os clientes têm tendência a contratar os arquitetos presentes no encarte, uma vez que os nomes dos autores são divulgados. Quanto ao prazo, quanto tempos vocês precisariam para desenvolver o projeto? É apenas um projeto de prefeitura, não precisa do executivo. É a última posição de vocês?"
Ao ler essa resposta, fiquei muito, mas MUITO indignada! Na hora, escrevi um texto, apresentei para minha amiga no dia seguinte, e enviamos à pessoa! Eis nossa resposta:
"Nós, enquanto arquitetas, trabalhamos com contratos e não com tendências de contrato. Se fizermos o projeto, temos que receber por isso, uma vez que projetar é nosso trabalho e nosso meio de vida.
Se a necessidade é a de um projeto de prefeitura, então pedimos para que nos paguem o custo de realizar um projeto de prefeitura.
Se um comprador de lote requisitar nosso trabalho, aí faremos o projeto executivo, e cobraremos por isso.
Creio que o empreendimento esteja pagando os profissionais responsáveis pelo projeto de infra-estrutura, pela publicidade. Então, por que não pagar o arquiteto que faz o projeto básico?
Se a não remuneração for a última posição de vocês, então a nossa recusa também é a nossa última posição."
O que mais me revoltou foi o desmerecimento dado à profissão. Independente de ser apenas um estudo ou um projeto executivo completo, o trabalho do arquiteto é PENSAR o espaço, ANALISAR as melhores possibilidades para desenvolver um projeto. Não é apenas desenhar. Um rabisco custa, pois por trás desse rascunho há inúmeras ideias, inúmeros estudos (mesmo que mentais), para se chegar ao projeto básico. Mas, se uma proposta como essa é feita, é porque há profissionais que se sujeitam a isso, infelizmente.
Precisamos mostrar o valor que temos, ou veremos cada vez mais essa prostituição profissional!

Um comentário:

Bau disse...

Querida, estou totalmente de acordo com vocês, a desvalorização da profissão começa com a desvalorização do profissional. Muita gente se submete a essas coisas por "propaganda", na esperança de conseguir visibilidade e trabalho, mas não pensa na atitude. Pena, seria bom que todos os profissionais agissem como você. Beijos e parabéns!