sábado, 12 de janeiro de 2013

O papel no desenho

E no começo eu era um desenho que não cabia na folha, era uma superlotação de rabiscos e cores, brigando pelo espaço do papel.
Depois de 2 anos, foi feita a pergunta: "E agora? Como é você?"
Não pensei duas vezes, e respondi: "Agora me deram uma folha maior."
Assim terminou a sessão. A pergunta, na verdade, não era para ser respondida ali, naquele momento, mas sim na próxima semana, para eu pensar bastante. No entanto, mesmo afirmando de pronto, não deixei de pensar. E a minha resposta me fez refletir muito mais.
"Agora me deram uma folha maior." Como foi que eu cheguei nisso?
Antes eu não cabia na folha - muitos desejos, muitas ações, muitas alegrias, muitas certezas, muito "muito" nessa história. 
Ao longo de dois anos de terapia, fui conhecendo meus rabiscos, aparando algumas arestas, percebendo os círculos e transformando-os em espirais. Capturei formas, separei algumas, uni outras, e apaguei o que não fazia mais sentido. Criei novas perspectivas, pois até mesmo o papel pode ganhar volume.
Redescobri o branco e preto, para então pintar as outras cores. E quando juntei o rascunho ao desenho, o desenho à forma, a forma às cores, encontrei e fui encontrada pelo tom. E os traços cresceram, viraram letras, partituras, contrastes e harmonias.
Rascunhei novos sonhos, pintei novas realidades. Entendi que não era eu que não cabia no papel. Era o papel que já não cabia mais em mim. E me deram uma folha maior.

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