quarta-feira, 5 de maio de 2010

A Máquina

Essa semana reli um livro que gosto muito, escrito por Adriana Falcão, entitulado: A Máquina.
A história é simples, e se passa em uma cidadezinha do interior do Nordeste - um homem, apaixonado por uma mulher, resolve que vai levar o mundo até ela, para que ela não vá atrás do mundo. Para isso, resolve construir uma máquina do tempo e da morte.
O que me chama mais a atenção nesse livro é a linguagem poética, o jogo de palavras, a delicadeza e sutileza presentes na narração, que pede para ser feita em voz alta. Voz alta? Sim! Para que não apenas os olhos leiam, e sim o corpo todo, a alma toda.
Segue abaixo um trecho do livro:

"Era o tempo de Antônio. E lá o tempo passava diferente. Era uma coisa agora, com um pouco já era outra e logo depois não era mais essa. Era aquela. O tempo de Antônio passava rápido demais. É ali por volta do ano dois mil que começa a história do tempo de Antônio. Mas o tempo de Antônio começou há mais tempo do que isso, vinte e tantos anos antes, quando Antônio veio ao mundo. Ou então ainda há mais tempo, bilhões de anos atrás, quando o mundo foi criado. Tudo era uma seca só. Não tinha terra, não tinha céu, não tinha bicho, não tinha gente, não tinha nada. Era só breu. Aí Deus foi ficando meio enjoado e resolveu criar o mundo. Ele pensou assim, vê que besteira a minha, por que é que vai ficar tudo sem nada se eu posso inventar o que eu quiser? Então saiu inventando.
Primeiro ele inventou o céu que era pra ter onde morar. Mas como o céu tinha que ficar em cima de alguma coisa, ele inventou a terra para ficar embaixo. Então ele pensou, e a terra vai ficar com um céu em cima e não vai ficar com nada embaixo não, é? Daí ele foi e botou o inferno embaixo da terra. Ficou bem bonitinho aquele negócio assim azul em cima e aquele negócio assim vermelho embaixo.
No começo a terra só servia para isso. Para ficar embaixo do céu e em cima do inferno. Mas aí Deus pensou assim, agora, que tem a terra, eu tenho que inventar gente pra botar lá. Foi aí que ele inventou a vida. E no que inventou a vida já inventou a morte junto, pois tudo que é vivo, morre."

2 comentários:

Ulysses Boscolo disse...

Oi Renata... não conhecia este autor.
Gostei muito do fragmento que você postou no seu blog... uma matriz de madeira... algumas palavras a respeito da criação imortal... por que, quando criamos, seja o que for, acho que experimentamos uma sensação (breve e muito leve) de imortalidade... de algo que no fundo, pode atravessar o tempo no relógio dos anos...

abraços,
U.

Re disse...

Olá, Ulysses!
Concordo com vc - nossas criações nos dão uma breve sensação de imortalidade.
Creio que você vá gostar muito desse livro. A autora narra sobre assuntos tão densos com uma leveza impressionante, numa linguagem simples e recitada.
abraços!
Re