Há pouco mais de uma semana, o Pôlo passou um link para a turma da arquitetura. As coisas desse projeto geraram a maior discussão no e-mail do grupo. Discussões muito válidas, sobre os exageros da arquitetura - exageros formais, visuais, mas também exageros de custos, de luxos. Sobre sustentabilidade, uma preocupação cada vez maior, mas ao mesmo tempo apenas um embrião em termos práticos.
E hoje, lendo o blog da Tha, tive vontade de escrever sobre o tema. Sobre o que eu acredito, o que me agrada na arquitetura. Essas são questões levantadas no post dela, mas creio que isso deva passar pela cabeça de todos os estudantes e profissionais de arquitetura.
Como ela mesma disse, o curso que fizemos é de base modernista. E vemos alguma coisa de arquitetura contemporânea/high tech.
Agrada-me muito a arquitetura moderna. Seus elementos claros, seus espaços objetivos, a ruptura com todo o rebuscamento do que era feito antes. Mas, como tudo, ganha-se de um lado e perde-se de outro. A arquitetura moderna veio para acompanhar um ritmo de vida do homem que estava se transformando cada vez mais - trouxe a praticidade, a facilidade para o ambiente, quando já podíamos observar a prática em outros setores da vida. Porém, seus planos limpos, suas transparências, suas empenas sem ornamentos, a dureza do concreto, trouxeram uma certa impessoalidade. Tudo certinho demais, tudo no lugar adequado, preciso.
E vejo algo parecido acontecer com a arquitetura contemporânea/high tech. Da mesma forma que aquela, esta arquitetura busca andar de acordo com seu tempo. A vida hoje é um aglomerado de tecnologias e informações; pressa e estresse constantes, e ao mesmo tempo a busca por um refúgio tranquilo, onde toda a preocupação fique fora do ambiente de descanso. E então observo dois opostos... arquiteturas que são quase um caos - exageros visuais, em cores, acessos à internet e outras relações virtuais; e arquiteturas que são limpas demais - onde cores são branco, preto, marrons e todos os tons neutros, e onde tudo está exatamente no lugar que deveria.
Tanto no modernismo, quanto no contemporâneo, há essa impessoalidade. Claro que estou generalizando - sei que o que estou falando não é regra. Voltando ao assunto. Sinto falta de vida nesses tipos de arquitetura. Tudo é preciso demais, perfeito demais, no seu devido lugar. Espaços que mais parecem filme de ficção do que realidade. Parece que a qualquer momento sairá um robô, ou um clone, ou qualquer viagem científica de algum canto da sala. Tudo é perfeito demais. Mas a vida não é perfeição. Aliás, a graça da vida está nas pequenas imperfeições.
Cadê o sapato na sala, tirado num dia que vc chegou cansado? Onde estão os quadros de paisagem morta, pintados pela criança aprendendo as primeiras pinceladas? A louça bagunçada, que nunca cabe toda certinha no armário (por melhor e maior que seja o armário). O sofá comido na ponta, que o filhotinho rasgou logo nos primeiros dias. Aquela poltrona antiga da casa da avó, que você pegou para si. Aquele jardim desordenado, mas com tantos cheiros e cores, que encantam todos que o vêem... Enfim... coisas que mostram que pessoas vivem naquele espaço, que usufruem dele.
Sei que não faria uma casa rebuscada para mim. Mas também não faria uma casa totalmente clean... quero fazer uma arquitetura limpa, mas sem a dureza aparente no concreto. Uma arquitetura aconchegante, humana.
Um comentário:
ja leu sobre a definiçao de 'forma convidativa' do herzberger? naquele livro basicao mesmo, o liçoes de arquitetura. beijao e namore bastante nas horas vagas, viu?
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