sábado, 26 de fevereiro de 2011

Cartas

Hoje foi um dia super divertido! Almocei com dois amigos do tempo de colégio - amizade de mais de 15 anos não é para qualquer um, né? Escolhemos um restaurante legalzinho, com uma vista agradável para uma praça, para podermos colocar as conversas em dia. Falamos de tudo um pouco - como está a vida de cada um, histórias engraçadas, viagens, planos. E, depois do almoço, esticamos a conversa em casa. Começamos a lembrar das histórias dos tempos de colégio/ colegial, e lembramos do tempo que a Cris morou fora, entre o segundo e o terceiro colegial. Não tínhamos internet com a facilidade de hoje, então nos correspondíamos por cartas.
A cada vinte dias, chegava uma carta nova, que eu respondia imediatamente e já postava no correio, e ela fazia o mesmo. Como era gostoso a expectativa de abrir a caixa do correio e encontrar uma nova carta! Novidades, angústias, crises existenciais, questões filosóficas (tá, não eram filosóficas, mas tinham sua profundidade), confusões amorosas, enfim... assuntos mais do que diversos! O mais legal é que a Cris recebia carta de todos, então ela sempre tinha uma visão geral do que se passava aqui - acho que sabia até mais do que a gente, por saber o ponto de vista de cada um de nós. E quando ela voltou, era como se ela não tivesse ficado fora por tanto tempo. As cartas, tanto ela quanto eu guardamos até hoje. E nessa tarde, enquanto ela e o Humberto estavam em casa, eu as retirei da gaveta, e ela então deu uma lida geral em todas. Leu alguns trechos em voz alta, para risada de todos!
Começamos a falar, então, como a internet e a facilidade de comunicação que ela nos permite através das redes sociais, msn, skype e todo o resto, tiraram esse gostinho que só uma carta, escrita de próprio punho, proporciona. A caixa de correios que, entre tantas coisas, nos trazia saudades, notícias, alegrias, hoje traz apenas contas a pagar. A expectativa de dias, semanas, à espera de uma notícia, hoje é abafada pelos e-mails e todo o resto da virtualidade. O pensamento e o sentimento da pessoa, que antes víamos na forma da letra, na rapidez da escrita, no capricho dos parágrafos, nas ilustrações no canto da página, nas observações puxadas por setinhas, na cor das canetas usadas, nas rasuras feitas, porque a palavra não era bem aquela, tudo isso se perdeu de certa forma, tornou-se mais impessoal.
E é nesse clima nostálgico que eu encerro o post.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Educação? É de comer?

Como disse no post anterior, hoje fui ao cinema com meus pais. Chegamos, compramos os ingressos e entramos na sala. Penúltima fileira, pois gosto de sentar no fundo. O cinema vai enchendo, e as luzes se apagam. Para mim, é aí que começa o filme - quando as luzes se apagam. Mas, tolero uma conversinha durante o trailler. Duas pessoas atrás de mim estavam conversando e fazendo barulho com papel de bala - ok, pensei comigo, daqui a pouco elas param. Pois bem, trailler acabado, filme começa. Hora de todos ficarem em silêncio, certo? Teoricamente, sim. Mas, as duas não pararam. Eu achei que fossem duas meninas de uns 13 anos, pelo barulho e pelas conversas, mas não - eram duas mulheres por volta de 50 anos. Fiz: "ssssssshhhhhhhhhh". Nada, o ti-ti-ti continuava. Passado um tempo, Novamente: "ssssshhhhhhhh", sem resultado. Mais um tempo, e as matracas não se calavam. Então, virei para trás, e falei: "vocês poderiam ficar quietas?", ao que me veio a resposta: "tem mais lugar lá na frente.". Não deixei por menos: "se queriam conversar, por que vieram ao cinema?", e elas: "vai sentar em outro lugar". Aquilo me subiu nos nervos. Levantei em um repente, e fui falar com a mocinha do cinema: "moça, tem duas senhoras sentadas atrás de mim que não param de falar. Será que você poderia ao menos dar uma advertência?". A mocinha, muito solícita, veio atrás de mim, e deve ter feito a única coisa que poderia fazer - sinal de silêncio para as duas mal-educadas. Sentei tão irritada, que estava até com calor! Não deu cinco minutos, e as duas começaram de novo. E ainda tive que escutar: "ainda bem que o filme é legendado", como querendo dizer que não havia importância se ele não fosse escutado. Movida pela minha irritação, falei: "and you, for sure, don't know english!" e pensei comigo: "vous ne conaissez pas français, non plus". Durante o filme todo uma delas fez barulho com um papel, e ambas continuaram a conversar, como se estivessem no sofá de casa.
Sei que entrei, de certa forma, na provocação delas. Mas, até onde eu sei, cinema é lugar de ver filme. Mesmo quando estou namorando, e a atenção foge um pouco das telas para abraçar a boca do namorado, ainda assim, a atração principal é o filme. Abrir a boca, só se for para comer pipoca e tomar refrigerante, mas nunca para conversas de comadres!
Esse fato me fez lembrar de uma crônica de Martha Medeiros que li essa semana, chamada "Os ricos pobres". Na crônica ela fala de uma declaração do publicitário Washington Olivetto, onde ele fala do conceito de grupos de pessoas: os "ricos-ricos"(que tem dinheiro e cultura), os "pobres-ricos"(que não tem dinheiro, mas tem cultura e dão seus pulos para obtê-la) e os "ricos-pobres"(tem dinheiro, mas não tem cultura). Ela ainda fala de um quarto grupo, que ele não citou, que seriam os "pobres-pobres"(sem dinheiro e sem cultura). Para exemplificar o conceito de rico-pobre, ela cita algo que ela presenciou - um cara, dentro de um audi do ano abriu o vidro do carro e jogou uma embalagem de cigarro vazia. E diz: "os ricos-pobres não tem verniz, não tem sensibilidade, não tem alcance para ir além do óbvio. Só tem dinheiro."
Seguindo sua linha de raciocínio, vou um pouco além - os ricos-pobres (muitas vezes nem tão ricos assim, mas com dinheiro o suficiente para ir ao cinema de vez em quando, ou comer em um restaurante, ou viajar nas férias), além de não terem cultura, não tem educação. Acham que o mundo gira em torno de seus ínfimos umbigos, e nada mais importa. Pobres, muito pobres essas pessoas. O filme, apesar de não ter aproveitado em sua totalidade por causa desses dois seres, eu ainda posso vê-lo depois. Mas, e quanto a elas - depois de 50 anos, ainda terão condições de aprender o que é educação?

Além da Vida (Hereafter)

Hoje fui ao cinema com meus pais, assistir ao filme Além da Vida, de Clint Eastwood. O filme se passa na época em que aconteceu a tsunami e o atentado no metrô de Londres, e trata de várias histórias, que acontecem em diferentes lugares - uma jornalista francesa que foi atingida pelo tsunami, e desde então percebe que sua sensibilidade e percepção mudaram; um vidente americano que, depois de ganhar dinheiro às custas de sua mediunidade, resolveu parar e mudar de vida; e dois irmãos gêmeos ingleses que tem uma mãe viciada e alcoólatra onde, por uma fatalidade, um dos meninos é atropelado e morre.
Devo dizer que gostei muito do filme, ele mexe com a gente por tudo o que há nele: a forma como as histórias são conduzidas, as cenas impactantes, delicadas, com pitadas de humor (porque a vida não é só tragédia).

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Sobre a frase de ontem

Ontem escrevi: "Num mundo onde o sexo é banalizado, luxúria é sair nas ruas de mãos dadas."
Esse pensamento veio ao ler uma das crônicas do livro: Doidas e Santas, de Martha Medeiros. Aliás, antes de explicar a frase, preciso falar algo sobre essa autora. Eu simplesmente estou ADORANDO ler seus textos!! Há umas duas semanas li "Divã" - já tinha visto o filme, que é muito bom, mas o livro é melhor - sempre é, né? E esse outro livro que estou lendo é muito cativante. Cada frase que eu leio é como se fosse meu pensamento traduzido!
Bem, voltando à crônica que deu origem à frase - "Mãos dadas no Cinema". Nela, Martha fala sobre o dia dos namorados. O que mais me chamou a atenção no texto foi esse trecho: "Do que sentem falta os amantes clandestinos? Luxúria eles tem de sobra. O que lhes falta é esta forma brejeira de intimidade: dar-se as mãos. Na rua é arriscado, há olhos por todos os lados, já no cinema é possível providenciar um encontro às escuras e ali realizar a mais tórrida aproximação de corpos, um ato realmente subversivo para adúlteros: unir as mãos como dois namorados."
Esse pequeno parágrafo me fez pensar na maneira como nos relacionamos hoje. É raro acontecer a paquera inocente, a troca de olhares envergonhadamente assanhados, uma conversa no portão. Normalmente a paquera é um jogo, onde um olhar é o dardo e o outro, o alvo. Ficar com alguém sem testemunhas e sem dia seguinte é mais fácil do que conquistar e ser conquistado.
Imagine uma chaleira com água fervendo. Ficar por ficar é a tensão supercificial - tem sua graça, mas não dura muito. Logo as bolhas fervem e viram vapor. A ficada é essa volatilidade. Já o namoro é todo o resto da água que fica na chaleira, esquentando lentamente ao fogo.
Repito: num mundo onde o sexo é banalizado, luxúria é sair nas ruas de mãos dadas. O entrelaço de pernas é trivial, o abraço dos dedos é luxo.
Namorar, hoje em dia, é um privilégio de poucos.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Num mundo onde o sexo é banalizado, luxúria é sair nas ruas de mãos dadas.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Sujeitando-me

Os verbos, não os conjugo
Por eles sou conjugado
Sou presente em passado
Não sou sujeito
Mas sujeitado
Predicado em voz passiva
Pacifista desencantado
Indivíduo divisível
À mim, invisível
Comigo endividado

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Bêbado

Corpo
No começo
Pede um copo
E mais outro
Até alcançar o topo
E no tropeço
Perde a hora
Entrou noite
Saiu aurora
E agora?
Vou embora
Bebo mais não!
Até dar a hora...

Cy

Tenho uma amiga muito legal, descolada, antenada nas novidades - principalmente as de informática. É com ela que eu e uma outra amiga nos informamos sobre arquitetura, tendências, computadores... Cy é um pé de boi para trabalhar, às vezes acho que ela deve ter um clone, para dar conta de tudo o que faz. Mas, do mesmo jeito que ela é super atarefada e antenada, ela é esquecida.
Outro dia ela foi ao escritório deixar umas coisas, e falou que iria para o oftalmo logo em seguida. Então, dez minutos depois, ela volta, falando: "vocês não vão acreditar", ao que falamos: "não é hoje a consulta." e ela: "não! É na semana que vem." Nós três caímos na risada. Essa não foi a primeira vez, e o pior é que ela tinha anotado na agenda.
Bem... outra característica peculiar de Cy é que ela nunca dá presente de aniversário na data. Essa é uma particularidade que adoro nela, pelo simples fato de ela estender a data até a hora que ela entrega o presente. É quase como comemorar de novo! E esse ano foi especial! Ela chegou com dois caderninhos da Moleskine para mim e dois para minha outra amiga, que quase teve um surto eufórico ao ver o caderninho de pontas arredondadas. Já eu, com meu espírito de gorda, ao ver o pacotinho achei que fosse um chocolate! haha
A única pena é que a Cy não vai mais trabalhar no escritório, porque está se dedicando ao doutorado. Mas, reivindicaremos muitos almoços para compensar essa falta!

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Urbana com respaldo genético

Não é frescura. É simplesmente constatação dos fatos e, contra fatos, não há argumentos.
Nunca gostei de me aventurar pelo meio do mato, trilhas... Nunca acampei. Praia deserta não cola - preciso de uma infra-estrutura, uma cidade em volta da praia. Chácara? Um fim de semana está de bom tamanho - é o suficiente para descansar e não cansar.
Fiz arquitetura e urbanismo, gosto de construções do espaço. Selva? Só se for a de pedra. Gosto do asfalto, de olhar a cidade, é onde gosto de passear, viajar.
Para ajudar, sempre fui alérgica a insetos. Abelha, borrachudo, formiga, pernilongo. O local incha na hora, fica até meio febril. Levei uma picada de abelha uma vez que deixou meu braço parecendo o do Popeye. Hoje, estava na praça com uma amiga, quando levei duas picadas de formiga. Resultado? Minha mão está parecendo um pão.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Strike de prateleira

Na cozinha de casa há uma prateleira de madeira que fica um pouco acima da geladeira. Ali ficavam: uma cestinha pecaminosa com chocolates e bombons, uma balança antiga de ferro (ironia para tentar conter a comilança das guloseimas?), e um jarro de porcelana. Pois é... ficavam. Logo depois de jantar, fui pegar a cestinha de bombons e... CATAPLOFT! PLIM! PLACK! CRASH! A prateleira tombou, caindo tudo! Strike total! A balança descompensou e o jarro quebrou.
Ainda bem que não danificou a geladeira.

Telemarketing de calçada

Hoje, na saída da psicóloga, vejo uma mocinha e um rapaz conversando. Ela, de prancheta, papel e caneta em punho, falando sem parar. Ele, escutando sem ouvir, passeando os olhos pelas ruas, onde suas pernas gostariam de seguir.
Então pensei - telemarketing de calçada. Ela oferecia algum serviço para o moço, que, se fosse aceito, concorreria a um brinde, ou desconto, não ouvi muito bem. E ele ali, imóvel, mudo, numa tentativa apática de ir embora. Mas essas vozes são persuasivas, não deixam você escapar, argumentar. Se não insistirmos, somos vencidos pelo cansaço.
Bem, passo por eles, e meus olhares se cruzam com os do rapaz. Seus olhos diziam: "como eu queria estar no seu lugar", ao que os meus responderam: "eu agradeço imensamente por estar em meu lugar!". E segui, sem saber se ficava com mais dó dele ou da moça.